O envelhecimento postergado em nossa mente é fruto da mídia, o que não
nos torna eternamente jovens, mas eternamente consumidores do mundo da moda, do
cosmético, das cirurgias plásticas, das novidades eletrônicas e de tantos
outros produtos disponíveis nas prateleiras da juventude.
“Eis que fizeste os meus dias como palmos; o
tempo da minha vida é como nada diante de ti; na verdade, todo homem, por mais
firme [Jovem] que esteja, é totalmente vaidade”. Salmos 39.5
Assim como as estações climáticas passam,
pois estão contidas no ano, as fases de desenvolvimento da vida estão contidas
no tempo e todas passam.
Nós passamos pela fase da infância,
adolescência, juventude, adulta e, por último, mas não menos importante, a
terceira idade.
“Parabolando”, tudo isso é como um ônibus que
ninguém sabe de onde vem; e que no caminho recebe três passageiros, dos quais o
primeiro a descer, depois de iniciar a viagem, é uma criança, seguido então um
adulto e, por último, um idoso aparentando bem mais de 60 anos. E então o
ônibus segue com destino à última estação, que não é o terminal.
Os passageiros são as fases da vida, que
passam, e o ônibus é o tempo que continua.
Quando somos adolescentes, queremos acelerar
o ônibus, mas é impossível assumir o lugar do motorista. Já, quando somos
idosos, nossa maior vontade é voltar o ônibus, mas esse não dispõe da
marcha-ré.
Se algo que desejamos muito não é possível de
acontecer, nossa mente logo começa a sentir a sensação de como seria se tivesse
acontecido, ou seja, o adolescente não pode avançar no futuro, então ele sonha,
e a sensação do sonho o faz se sentir no futuro, o idoso não pode voltar no
passado, então ele sente saudade, e a sensação da lembrança o faz se sentir no
passado.
E os jovens?
Os jovens na verdade não quererem descer do
ônibus, eles querem eternizar a juventude, querem se manter jovens, mesmo não
sendo mais.
A escritora e psicanalista Maria Rita Kehl
dizem que “a vaga de adulto em nossa sociedade esta desocupada”. Os jovens que
até então eram predestinados a ocuparem tais vagas, estão resistindo a tudo e a
todos para se mantiver juvenis.
O motivo pelo qual os jovens não querem
descer do ônibus é de cunho cultural. O público que mais consome são os jovens,
e a mídia faz da promessa da “eterna juventude” um mecanismo fundamental para
sustentar em alta esses consumidores que são jovens, que se sentem jovens e que
não aceitam ser adultos.
A cultura produziu a ideia de que ser adulto
é ter menos vitalidade, que o adulto aproveita menos a vida, que ser pai de
família é parar de viver, que a terceira idade é como o fim da vida. A
supervalorizarão da juventude está inserida em nossa cultura e ninguém percebe
que condicionar o prazer da vida à juventude é uma enorme burrice. Eternizar a
juventude é tentar parar o tempo, o “ônibus” que não para nunca. Aqueles que
pensam ainda ser jovens estão de fato mentindo para si mesmos, são pessoas
produzidas por essa cultura.
O envelhecimento postergado em nossa mente é
fruto da mídia, o que não nos torna eternamente jovens, mas eternamente
consumidores do mundo da moda, do cosmético, das cirurgias plásticas, das
novidades eletrônicas e de tantos outros produtos disponíveis nas prateleiras
da juventude.
Que possamos deixar o ônibus seguir o seu
caminho, e que desçamos no ponto certo, convictos de que todas as fases da vida
reservam emoções ainda não sentidas na fase (ponto) anterior.
Alan César Corrêa
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