Estávamos lá, sentados, Seu Francisco e eu, prontos para
ouvir e aconselhar. Somos voluntários da mesma equipe, apesar de ele ser no
mínimo quarenta anos mais velho que eu. Nesses intervalos sempre conversamos a
acabamos nos conhecendo melhor. O dia em que resumidamente conheci a história
dele, passei a admirá-lo ainda mais.
Seu Francisco é um empresário falido, de pelo menos cinco
empresas de porte médio. Ambicioso, empreendedor e atualizado, trabalhou com
ardor e teve fartura. Mas a vida o deixaria à mercê. Sua ambição por riqueza,
posses, e o vício em jogos o levou à falência “não gosto nem de lembrar, só de
lembrar já dá tristeza”. Foi quando resolveu voltar para o Deus de seus 17
anos. Apesar do passar de anos, tamanhos tropeços, agora na terceira idade,
esse Deus não mudara como ele, continuava o mesmo, e o aceitou.
Numa conversa em outra ocasião descobri no que aquele antigo
homem ambicioso havia se tornado “não era pra existir gente ‘pobre’ na igreja”.
Ele argumenta sobre o que a igreja faz no mundo, se deixa até “os seus” com
fome. Tudo isso sem contar seus planos para casa do idoso, trabalho de
evangelismo com prostitutas e a vontade de concluir os estudos, ele parou no
quarto ano do ensino fundamental.
A mensagem do evangelho continua ofuscada em nós enquanto
nossa ambição for calcada no “eu”. E é só sendo criança de novo, não na
inocência, mas na incompetência, dando todo direito a Deus de agir é que
alcançaremos o seu reino. Preocupei-me demais comigo esses dias; concursos,
compromissos, e me senti só e sem apoio. Logo descobri o quanto mais precisavam
de mim e não me vi mais só.
A Bíblia afirma que o evangelho é o “dunamis” [poder] de
Deus para a salvação de todo aquele que crer. É deste termo que vem a palavra
dinamite. A explosão que é essa boa notícia, causa tamanho caos que somos
obrigados a recomeçar dos escombros: nova vida, novos modos, novos sentidos,
nova fé, novo caminho. E não mais conduzimos este barco, mas somos conduzidos
pela maré da Graça que habita em nós pelo Espírito.
Não é só para a salvação, mas para uma novidade de vida:
evangelho. Foi ele que alcançou o Seu Francisco ambicioso-egoísta, e fez dele o
inverso, alguém que se importa com os pobres. É este evangelho que nos
constrange a tirar os olhos do nosso umbigo e olhar para baixo, para lavar os
pés e servir.
Mateus Octávio Alcantara
Fonte: Ultimato jovem
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